A Assembleia Legislativa do RN realizou, na manhã desta segunda-feira (8), sessão solene em homenagem a Alzira Soriano, primeira prefeita da América Latina, em 1928, bem como em alusão ao Centenário do município de Lajes. Proposta pelo deputado Gustavo Carvalho (PSDB), a solenidade contou com a presença de políticos, autoridades e representantes de instituições públicas e privadas do Estado, especialmente do município homenageado.
Gustavo Carvalho iniciou seu discurso fazendo um histórico a respeito da origem de Lajes.
“Uma fazenda pertencente a Francisco Pedro de Gomes Melo, nos idos de 1825, representou os primeiros sinais de povoamento na localidade que hoje conhecemos como ‘Lajes’. O desenvolvimento do povoado se acentuou em 1914, com a chegada da estrada de ferro Sampaio Correia. No mesmo ano, a sede municipal foi transferida de Jardim de Angicos para Lajes; e, em 3 de dezembro de 1923, através da Lei Estadual nº 572, a criação do município foi efetivada”, disse o parlamentar, acrescentando que, “em seus versos, o hino de Lajes retrata e destaca a força e a coragem de seu povo, que neste ano de 2023 comemora seu centenário”.
Em seguida, o deputado relembrou a trajetória de Alzira Soriano na Política, dando ênfase ao seu pioneirismo mundial.
“Quero lembrar também um acontecimento político ocorrido em Lajes, em 1928, que teve repercussão até nos Estados Unidos. No dia 8 de setembro daquele ano, o jornal The New York Times dedicou espaço a uma notícia sobre o município: a jovem Alzira Soriano, aos 32 anos, disputou e venceu as eleições municipais em Lajes”, frisou.
Gustavo Carvalho ressaltou ainda que, com 60% dos votos, Alzira se tornou a primeira prefeita da América Latina, sendo empossada em 1º de janeiro de 1929. “Seu governo em Lajes ficou marcado pela construção de escolas e obras de infraestrutura, como estradas que ligavam a sede do município aos distritos, além de melhorias na iluminação pública a gás”, complementou.
O deputado continuou sua fala, destacando pessoas, grupos e aspectos característicos da cidade.
“Portanto, esta é Lajes: de Alzira Soriano, mas também conhecida como a Terra do Bode; da quadrilha junina 100% Ferroviário; do cuscuz com bode no mercado; dos poetas Antônio Cruz e João Batista. Lajes do Cabugi e de inúmeros eventos marcantes. Não podemos deixar de mencionar a Cavalgada do Vaqueiro Luiz Faustino; a Semana Alzira Soriano; a Romaria da Divina Santa Cruz; a Expolajes; a Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição; e, claro, a Emancipação Política em 3 de Dezembro”, disse.
Finalizando seu pronunciamento, Gustavo Carvalho frisou que a bandeira do município “ostenta os tempos áureos do algodão e do minério. E hoje Lajes é um grande polo no ramo de energia eólica; tem Escolas Públicas, Unidades Básicas de Saúde e Praças Públicas; possui saneamento básico em aproximadamente 75% da cidade; e dispõe de energia elétrica nas suas zonas urbana e rural. Portanto, são 100 anos de muitas histórias, personalidades marcantes, muito trabalho e luta deste povo guerreiro e acolhedor. Viva Lajes! Viva seu povo! Parabéns a todos pelos 100 anos!”, concluiu.
Na sequência, o prefeito do município de Lajes, Felipe Menezes, agradeceu a presença e o apoio de todos os presentes e destacou a importância de Alzira Soriano para a Política brasileira e mundial.
“100 anos não são 100 dias, e nós podemos dizer que o Senhor nos ajudou muito até aqui. Por isso a minha gratidão a Deus, pela existência desse município que a cada dia se prepara melhor para viver o seu centenário de emancipação política. E de maneira muito especial, por termos a virtude do nosso pedaço de chão ter sido palco do pioneirismo de Alzira Soriano. Nós protagonizamos a primeira eleição de uma mulher para um cargo eletivo na América Latina, culminando com a posse da primeira mulher prefeita”, enfatizou.
O atual prefeito frisou também a relevância do então governador “José Augusto” no cenário da eleição de Alzira Soriano.
“É inegável a relevância dele para o contexto que estamos celebrando aqui, já que ele sancionou a lei que estabeleceu a igualdade política entre homens e mulheres, através da possibilidade de votos sem distinção de sexo. Além disso, quero ressaltar que é impossível dissociar Alzira Soriano de Lajes e vice-versa”, finalizou.
Na sequência, a bisneta de Alzira Soriano, Marjorie Cortez Gomes de Souza, falou em nome da homenageada (In memoriam).
“Não é fácil estar aqui representando essa mulher incrível, que foi excelente mãe, esposa e avó. Então, eu quero agradecer, em nome de toda a família, ao deputado Gustavo Carvalho, pela justa homenagem, e ao prefeito Felipe, pela brilhante trajetória na sua gestão”, iniciou.
Marjorie de Souza fez ainda um agradecimento especial à sua avó, Ivonilde Soriano de Souza, filha caçula de Alzira Soriano.
“Foi ela que se dedicou por toda uma vida a guardar o acervo e o legado de Alzira. Foi ela que sonhou e realizou o desejo de fundar o Museu Alzira Soriano. Então, graças a Ivonilde Soriano, nós temos o museu e todo seu rico acervo guardado”, disse.
Em seguida, a bisneta de Alzira Soriano destacou que “ela era uma mulher de luta, que tinha uma visão diferente do que era ser mulher na época”. “Alzira era inteligente, autodidata, forte, valente e resiliente. Dizia que homens e mulheres deveriam andar lado a lado na construção da família e da sociedade. E foi por esses atributos que ela foi escolhida por Juvenal Lamartine e Bertha Lutz”, enalteceu.
Segundo Marjorie de Souza, foi preciso muita coragem e ousadia para enfrentar o patriarcado da época.
“Ela, então, candidatou-se à prefeitura de Lajes e obteve êxito. Ganhou a eleição, construiu estradas, mercados, escolas e foi contra o golpe político de Getúlio Vargas, pois ia contra os seus valores e ideais. Recolheu-se à sua vida familiar, montou um ateliê de costura em Natal, criou e educou suas filhas. Por volta de 1943, retornou à vida pública, sendo eleita vereadora posteriormente”, complementou.
De acordo com sua bisneta, “preocupada com a situação de fome e miséria das famílias, Alzira Soriano ofereceu cursos de culinária e de corte e costura para as mulheres da região. E, em virtude da alta mortalidade feminina em partos e pós-partos, ela buscou parceria com o médico Januário Cicco, sendo prontamente atendida. Além disso, Alzira não permitia violência contra as mulheres. Ela dizia muito que ‘em minhas terras, homem não bate em mulher’”.
Concluindo o seu discurso, Marjorie de Souza fez um apelo, em nome de todos os familiares, para que se desmistificasse a ideia de que Alzira Soriano era uma mulher que não se importava com o próximo, por ser branca e de classe social privilegiada.
“Ultimamente, eu tenho visto e lido mensagens preconceituosas, misóginas e xenofóbicas contra ela, por ser mulher e nordestina. Há quem diga que ela foi eleita por ser filha de coronel, mas a patente de seu pai não a distanciava da realidade do seu povo. Ajudar, promover acesso, defender e incluir eram verbos que ela sempre praticava. Alzira enfrentava quem viesse e defendia quem precisasse, estando sempre à frente do seu tempo. Portanto, eu finalizo minhas palavras com a sua célebre frase: ‘a luta é prazer para os fortes’”, concluiu a bisneta da homenageada.
Também estiveram presentes à sessão os parlamentares Tomba Farias (PSDB), Hermano Morais (PV) e Dr. Kerginaldo (PSDB).
Homenageados:
Felipe Ferreira de Menezes Araújo - prefeito de Lajes;
Lúcia de Fátima Soriano de Souza - representante do Museu Luiza Alzira Teixeira Soriano;
Marjorie Cortez Gomes de Souza - representante da família de Alzira Soriano (In memoriam);
João Batista Gomes de Sena - empresário do município de Lajes
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